O músico, por não experimentar precisamente essa sensação de fadiga em todo o corpo, deixa de perceber a necessidade de um descanso, a importância de uma pausa durante o exercício diário do estudo. Pode-se alertar, assim, para o fato de que ao praticar a mesma passagem excessivamente e de maneira seguida, ele não está atendendo à necessidade do seu corpo de um descanso ou de uma variação do exercício. Repetições excessivas de um mesmo movimento corporal fazem com que as fibras musculares percam elasticidade e se encurtem. Cada vez que um músculo é contraído ele mesmo precisa obter um aporte de energia. Se for contraído com muita frequência, não terá tempo suficiente para obter oxigênio. Um músculo que não recebe suficientemente oxigênio se torna mais ácido, provocando dano aos tecidos musculares.
Martín e Farías (2013) aconselham que as sessões de estudo sejam de cinquenta a sessenta minutos, intercaladas com pausas de cinco a quinze minutos, para ajudar na eliminação dos resíduos metabólicos e permitir que os músculos possam trabalhar de uma maneira saudável.
A prática de um instrumento musical demanda a utilização extrema de pequenos músculos: cada um deles compostos por pequenas fibras individuais. Um músculo pequeno depende relativamente de poucas fibras para realizar um trabalho. Portanto, quando o instrumentista, ao fazer um movimento rápido e repetitivo durante várias horas todos os dias, utiliza esse tipo de músculo, faz com que essas poucas fibras realizem um trabalho maior que aquelas outras que se movimentam lentamente na musculatura das pernas de um corredor, por exemplo. Por outro lado, os que ficam na periferia do corpo recebem menos sangue que aqueles mais próximos do centro, em função dos vasos sanguíneos menores, fazendo com que estes músculos pequenos sejam mais vulneráveis a uma lesão.
A prática do alongamento, segundo Rosset e Fàbregas (2008), prepara o músico para o máximo rendimento enquanto toca seu instrumento e, ao mesmo tempo, protege-o da possibilidade de lesões, contribuindo para restituir plenamente o organismo após o esforço realizado.
Duas razões principais justificam a realização dos alongamentos, segundo Paull e Harrison (1997). Uma delas para manter a flexibilidade e o pleno movimento nas articulações, a outra, os músculos na sua capacidade plena de extensão sem risco de se romperem e causar uma lesão séria.
O alongamento consiste em uma série de exercícios físicos que têm como objetivo propiciar a elasticidade dos músculos e das articulações.
Regelin (2004) assinala que, alongando-se corretamente cada músculo, reduz-se a sobrecarga sobre ele, reforçando a musculatura com um aporte de agilidade e de relaxamento. A elasticidade dos músculos dificulta o seu rompimento ou o sofrimento de um dano, inclusive na realização das tarefas cotidianas. Outro benefício obtido mediante um programa de exercícios de alongamento é a possibilidade de aliviar ou evitar a dor muscular.
Como conceito geral, segundo Rosset e Fàbregas (2008), o alongamento de um músculo é realizado através do movimento contrário efetuado por este. Verifica-se que tais alongamentos, recomendados antes e depois da prática instrumental, permitem a melhora do estado físico e, pelo seu efeito de relaxamento, favorecem igualmente o estado psíquico do músico. Na fase de preparação para tocar, alongar o músculo comporta um aumento da sua potência e tolerância ao esforço, provocando ao mesmo tempo seu aquecimento, incrementando sua flexibilidade e sua elasticidade, juntamente com os tendões, e contribuindo para a lubrificação das articulações. Por outro lado, na fase posterior à atividade instrumental, o alongamento contribui para eliminar a tensão, que, enquanto se toca, vai sendo acumulada em diferentes partes do corpo. Facilita o retorno venoso e linfático, contribuindo para a eliminação do depósito de líquidos, reduzindo o volume do músculo, origem da dor muscular, e facilitando sua recuperação.
Sobre a coordenação da respiração com os exercícios de alongamento, recomenda-se que estes últimos se iniciem no instante da exalação. A seguir, deve-se continuar respirando e alongando-se tanto quanto possível sem forçar o corpo. Chegando a um ponto de desconforto ou enrijecimento, deve-se ser capaz de relaxar nessa posição, inalando profundamente em cada respiração e prolongando cada expiração. Conseguindo-se permanecer na posição e experimentando um alívio no desconforto, estar-se-á no caminho certo do exercício. É importante que, na prática do alongamento, desfaça-se a posição com cuidado, em caso de dor ou desconforto extremo. O músico necessita estar bem concentrado na zona a ser alongada, com uma respiração lenta, rítmica e controlada. Ao alongar-se, deve procurar somente uma sensação suave de tensão, e, estando relaxado, deve diminuí-la enquanto se mantém a posição. A partir desse ponto, deve intensificar lentamente o alongamento até que perceba uma sensação de tensão intensa, mas ao mesmo tempo agradável. Deve manter a posição por vinte ou trinta segundos, repetindo a série quantas vezes desejar. Recomenda-se, igualmente, alongar os dois lados; por exemplo, primeiro o braço direito e depois o esquerdo. Deve-se iniciar com o lado mais tenso e sobrecarregado, pelo fato de que se dedica mais tempo e atenção, habitualmente, ao músculo que se alonga em primeiro lugar.